domingo, 7 de novembro de 2021

O sorriso da lua

Parece estar chegando ao fim as restrições sociais de uma pandemia que começou em março de 2020. Finalmente retomamos a vida social - de máscara, mas sem vergonha de estar na rua. 

Hoje fomos ao circo, no último dia de apresentação na nossa cidade. Fiquei surpresa como as crianças curtiram. Pedro tinha medo de barulho quando pequeno, tivemos uma experiência ruim quando ele tinha uns dois anos. Chorou tanto que precisamos sair. Depois disso fomos poucas vezes, a última delas nas apresentações do parque Beto Carrero. 

Acho que às vezes nos esquecemos que eles são crianças e que passaram quase dois anos em casa. O problema somos nós, que já vivemos um tanto mais e não nos permitimos nos maravilhar com as coisas. Aos oito e seis anos, eles enxergam o circo com outros olhos.

Na saída, comentando sobre nossas atrações preferidas e comendo churros, paramos para admirar a lua, sorrindo ao lado de Vênus. E a Maria completou a noite: "Mamãe, acho que ela está feliz assim porque conseguiu ver pelo menos um pouquinho do circo". 


quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Sabedoria ninja

"Mamãe, na maioria das vezes... hmm, não é tanto assim... Na médioria das vezes..."

(Maria Luísa, aos 5 anos)

"Sabe, eu não quero ser uma ninja ótima. Só quero ser uma ninja boa e seguir a vida."

(Maria Luísa, já aos 6 anos)

"Você está bem, filho? Sim, mamãe, estou óbvio."

(Pedro, 8 anos e fã de trocadilhos bobos)

terça-feira, 4 de maio de 2021

Notícias do front

Queridos filhos,

Acabo de notar que meu último post foi um resumo do semestre... passado. Quase seis meses se passaram entre aquele relato e o dia de hoje. E, como se é de esperar, muita água passou por debaixo da ponte, mesmo porque estamos no Brasil, onde cada dia é uma surpresa (péssima) diferente. 

Lembram que eu disse que a situação da pandemia estava melhorando e logo a vida voltaria ao normal? Pois bem, não foi o que aconteceu. No começo do ano os dados até foram melhores e a gente esboçou um retorno à normalidade, com ocasionais visitas aos avós e aula presencial. Mas aí a segunda onde veio e voltamos todos para casa (hmm, quase todos... teve quem não quis e quem não pôde).

Escola: na fazenda e no apartamento

Para diminuir o número de crianças circulando pela escola, a diretora achou por bem fazer algumas aulas na fazenda onde ela mora, lá na estrada do Ipatinga. Vocês amaram estar em um lugar aberto, cheio de natureza, com aulas que envolviam árvores, formigas e cavalos. Era tudo rústico, um trabalho imenso para levá-los e buscá-los, mas uma possibilidade de ter aulas presenciais e conviver com outras crianças. 

Em fevereiro, no entanto, a coisa começou a dar ruim de novo. Alguns casos de covid nas famílias das crianças fez com que a escola suspendesse as aulas e voltasse para o online. Até que a escola precisou fechar de novo por umas semanas quando nossa cidade (nosso estado todo, na verdade) ultrapassou a fase vermelha e atingiu a 'emergencial'. Voltou depois, priorizando as crianças de famílias que não têm onde deixá-los para ir ao trabalho. Vocês, meus filhos, voltaram ao computador e às aulas online, passando quase o dia todo dentro de casa. 

Planejamos voltar para as aulas presenciais em junho, mas é o tipo de coisa que não dá para afirmar. Hoje, por exemplo, recebemos uma mensagem da diretora da escola dizendo que todas as classes do Ensino Fundamental voltaram ao online porque a coordenadora e uma criança estão infectadas, além de outros casos nas famílias de alguns alunos.  

Fada do dente

A Maria Luísa perdeu o primeiro dentinho de leite no começo do ano, no dia 23 de fevereiro. Fez uma festa, amou ter uma janelinha e encontrar umas moedas debaixo do travesseiro no dia seguinte. Em abril, caiu mais um, também de baixo. 

Aniversário (ainda) pandêmico

Pedro, você fez mais um aniversário em quarentena. A gente já está tão acostumado a viver assim, de máscara e em casa, que nem sei mais como é fazer uma festa. Bom, festa a gente fez: eu, você e a Maria fizemos desenhos dos Vingadores em papéis e colamos na parede da sala de jantar. Compramos copos e pratos do Hulk e toda a turminha de heróis pela internet e a vovó Denise mandou um bolo. Ah, até brigadeiro teve! 

Então nós quatro compramos pizza de quatro queijos para o jantar e cantamos parabéns com tios e avós pelo vídeo do Whatsapp. Depois, eles passaram na rua do nosso prédio para entregar presentes para você e pegar um pedaço do bolo. Foi o possível e acabou sendo legal. A gente aprendeu a fazer o melhor com o que temos.

Compramos uma casa

Sim, sim, criancinhas, nós temos um quintal pra chamar de nosso! Depois de alguns meses procurando (desde outubro ou novembro, se não me engano), fechamos negócio. Dá trabalho comprar uma casa, sabiam? Custa dinheiro e paciência, praticamente na mesma proporção. Pegamos as chaves no dia 23 de março. A ideia era boa, mas na prática deu medo, vou ser sincera. Você só vão ler isso quando adultos, não é? Deu frio na barriga sair do apartamento que ficamos por quase oito anos. Tive vontade de chorar toda vez que o Pedro chorou. Tentei me apegar à felicidade da Maria, mas não foi fácil.

Vamos morar em uma casa de três andares, olha a ousadia. No térreo, escritório (ou biblioteca, como preferirem), sala, sala de jantar, cozinha de conceito aberto - influência de centenas de programas de reforma assistidos nos últimos anos. E uma bela varanda com vista para o pôr do sol. No segundo andar, os três quartos e seus respectivos banheiros. No -1, como decidimos chamar o subsolo, por influência do tempo vivido em prédio, uma churrasqueira e um quintal gramado onde irá morar nosso futuro coelho.

Acampamos na casa da vovó

Só que obra não segue o planejado (anotem essa informação, por favor). Foi preciso uns ajustes na casa assim que pegamos as chaves, mas não era muita coisa. Só que era muita coisa: a casa visita anotávamos mais e mais pequenos (e não tão pequenos) reparos, a começar pela colocação de portas nos banheiros. Sim, as suítes não tinham portas, minha gente. Agendamos a mudança com a transportadora, mas a casa nova não ficou pronta a tempo, o que nos levou a surtar passar uns dias na casa da vovó e do vovô. Viemos na sexta-feira e o plano era passar uma ou duas noites. Hoje é terça e ainda estamos aqui, acampados.

Quer dizer, acampados não, porque a casa deles é bem grande e o andar de cima está vazio desde que meus irmãos foram embora. Tem sido ótimo ficar aqui, eles têm sido muito gentis e nos acolheram mesmo sabendo que a gente ocupa um espaço gigante, larga brinquedos pelo caminho e come como se o mundo fosse acabar. Hoje, se tudo der certo, é o nosso último dia aqui, o que faz de amanhã nossa estreia na casa nova. 

E aí, prontos para encarar mais esse capítulo da nossa vida?

Depois eu volto para contar ;)

sábado, 26 de dezembro de 2020

Um resumo do semestre

Queridos filhos Pedro e Maria Luísa,

Venho fazer mais um registro de nossa vida atual para que vocês leiam no futuro, quando foram grandes. Estamos terminando 2020 e, crianças, que ano foi esse? Nunca na vida pensamos em passar por tanta coisa louca e inesperada, acho que nem ficção daria conta de inventar tanta história surreal. Mas sobrevivemos e vivemos bem na medida do possível. Vou dividir em tópicos para facilitar a escrita e o entendimento.

Acho importante lembrar, antes de tudo - não só aqui, mas todos os dias da vida - que somos ridiculamente privilegiados. Moramos em um apartamento ótimo, vocês estudam em uma escola incrível e não perdemos ninguém para o coronavírus. Enfim, não fomos diretamente afetados pela epidemia como tanta gente do nosso país desigual, onde pessoas perderam o emprego, a renda, os familiares, a escola. Então, antes de qualquer reclamação ou drama classe-média-sofre, é preciso fazer uma pausa para lembrarmos do lugar que estamos falando, da situação que nós estamos e da realidade do Brasil.  

Pandemia infinita

Faz quase um ano que estamos em pandemia mundial. No fim de março e começo de abril o Brasil se alarmou e tudo virou de ponta cabeça. Não só o Brasil, mas o mundo todo. Víamos o que se passava na Europa e outros países já sabendo que passaríamos o mesmo por aqui, com aquele delay que estamos acostumados. Quando tudo se acalmou por lá e o número de infectados e mortos por covid-19 diminuiu, sabíamos que por aqui também diminuiria, em algum momento. Apesar da ineficácia do governo, mas esse já é outro assunto. 

Pois bem, quando por aqui as coisas começaram a se acalmar e nossa vida foi voltando ao que era antes - restaurante, casa de familiares, escola presencial - deu-se a segunda onda na Europa e a certeza que ela viria para cá também. Agora, em dezembro, o número de pessoas infectadas no Brasil saltou e as medidas de prevenção voltaram a ser discutidas. Mas naquele esquema, prefeitura x estado x país. Um contradizendo o outro. E, depois de tanto tempo em casa, se lambuzando de álcool gel e usando máscara, ninguém mais quer fazer nada disso. Cansou, já deu. Ninguém mais se protege e os números sobem. 

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Escola presencial

Vocês voltaram presencialmente para a escola na última semana de outubro e ficaram até o fim de novembro. Nos primeiros dias de dezembro viajamos para Paraty, no RJ, e depois vocês não foram mais à aula. Foi um momento curto, mas importante para vocês, de reencontrar os amigos e os professores. Que falta faz o convívio social. Achei muito bacana vocês voltando para casa famintos e cansados e sujos e cheios de histórias para contar. Como vai ser o próximo ano? Ninguém sabe ainda, mas acredito que terá máscara, álcool gel, distanciamento e toda a preocupação de antes. Pelo menos até a vacina chegar, o que não tem data ainda (no Brasil; em alguns outros países do mundo a vacinação já começou). Isso nas escolas particulares, essas empresas que precisam lidar com clientes tal qual uma loja. Já nas escolas públicas a história é outra, bem diferente e menos promissora. 

Paraty

Sobre a viagem em plena pandemia, acho que fomos um pouco irresponsáveis sim, mas fizemos. Fomos de carro (o que foi bem tranquilo e levou pouco mais de cinco horas). Vocês se distraíram o tempo todo com livros de pintura e atividades e gibis (e eu usei meu método favorito, que é dormir o maior tempo possível). Nos programamos para estar na cidade nos dias de semana e contratamos um passeio de barco só para nós quatro no fim de semana. Tomamos cuidados, mas não me orgulho de ter ido viajar nessa época. De qualquer forma, fomos, e foi bem gostoso. A cidade é linda demais, com as casas coloniais e centro histórico preservado. A natureza ao redor também é deslumbrante, numa mistura infalível de praia e montanha. Não tem como dar ruim. 

Vocês se divertiram com tudo: os caranguejos nas calçadas, o mar, a areia, as poças de água nos dias de chuva, a piscina do hotel, as ruas de pedras, os bichos que vimos nos passeios, o barco... Vocês se encantam com cada coisinha e eu me encanto junto. Nós formamos a melhor equipe de viagem de todas e até um cartão de aniversário eu ganhei no dia 5 de dezembro, que a Maria guardou escondido na mala. Foi uma aventura legal para encerrarmos o ano.

A morte

Mas, como nem tudo é feito de sol e diversão, passamos por uma situação também inesperada e muito triste, que foi o falecimento da minha tia Elisa. Ela morreu de câncer no dia 6 de dezembro, um dia depois do meu aniversário, quando estávamos na estrada voltando para casa. Vocês ficaram sabendo de tudo, de toda a caminhada desde o diagnóstico da doença, em setembro, até a despedida dela. Fomos visitá-las algumas vezes e até ajudar quando ela já não estava bem. 

Foi o primeiro contato de vocês com a morte, assim tão perto. Nunca tínhamos perdido alguém próximo depois que vocês nasceram, eu acho. E vocês dois encararam muito bem. Fizeram perguntas, viram minha dor, me consolaram, aprenderam como as pessoas ficam quando perdem alguém e que a vida é assim mesmo, finita. Achei importante que nada fosse segredo ou meia verdade. Uma das coisas mais importantes no nosso relacionamento, acredito eu, é a honestidade. 

Festas de fim de ano

Passamos o Natal com a família - dia 24 com meus familiares, dia 25 com os do papai. É assim que sempre fazemos, desde que vocês chegaram. Neste ano não tivemos amigo-secreto (o que achei ótimo e bem econômico) e nem muita gente (o que também achei ótimo). O clima não era dos mais festivos, pela perda tão recente da tia Elisa e pela pandemia, mas foi importante estarmos juntos, nos dois dias. 

Vocês, crianças, têm uma função importante nesses dias, que é alegrar as pessoas ao redor mesmo sem fazer nada pra isso. A simples presença de vocês andando de um lugar para o outro, mexendo nas coisas, falando com suas vozes infantis... casa com criança fica renovada, mais alegre, sabe? Eu sei que vocês não sabem, mas é bem isso que acontece. Quando a gente não vai a algum lugar, não é a nossa ausência que é lamentada, mas a de vocês. Eu não ligo muito para Natal, mas fico feliz que vocês possam alegrar o dia de seus avós e bisavós.

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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

5 anos

Maria Luísa fez 5 anos no dia 13 de agosto e eu, como sempre, esqueci de vir fazer minhas tradicionais (e atrasadas) anotações sobre ela e essa idade tão legal e engraçada. Muita coisa aconteceu nesse ano inusitado - ou pouca coisa, não sei ao certo - mas pudemos ver um crescimento gigantesco dessa menina maluquinha. 

Festa de aniversário

Como a pandemia ainda estava rolando, decidimos fazer aquele esquema de bolo em casa, só nós quatro mesmo. E com aquela encenação toda de surpresa, que quase nunca dá certo. Mas foi legal! Fizemos o bolo que ela queria, de chocolate com recheio de doce de leite e cobertura de brigadeiro com M&Ms. Estou quase que uma especialista na receita já. No fim da noite, as duas avós passaram por aqui e entregaram presentes para as crianças pelo portão do prédio.

O tema desse ano era criativo, como a própria aniversariante: caça à bailarina. Apesar das piadas do Juliano e do Pedro, não envolvia espingarda nem nada assim. Era, na prática, um esconde-esconde em que ela, vestida de bailarina, se esconderia em um canto da casa e os convidados sairiam para procurá-la. O primeiro a achar ganharia um chocolate. Desafio aceito: preparei uma caixinha com Bis e Batom, que ela ama, achei o collant do balé (que já está apertado, mas tudo bem) e fizemos a brincadeira que ela inventou. 

Teve decoração também! Fizemos alguns desenhos durante a semana e colamos na parede da sala de jantar, junto com bexigas de cores variadas. Na mesa, posicionamos as duas bonecas bailarinas dela, a rosa e a roxa, ao lado do bolo. O Pedro até usou gravata borboleta para a festa hhahahah! Não foi uma festa tradicional, mas foi bem divertida.

Crescimento

Como de praxe, vou fazer algumas anotações sobre o desenvolvimento da Mariazinha para que a gente possa ler no futuro e relembrar desses momentos.

- como não vai ao pediatra há tempos, não sei ao certo quanto está medindo e pesando. A anotação da última consulta, em janeiro, diz 1,06 cm e 17,7 kg. Mas com base na quantidade de bolo que a gente fez na quarentena e nas calças todas curtas na gaveta dela, imagino que já tenha passado disso.

- aprendeu a ler e a escrever em plena quarentena. Eu não aguento de orgulho dessas coisas! Pouco antes de fazer 5 anos, estava muito, muito curiosa sobre letras, palavras e rimas. Então nós fizemos jogos, brincadeiras e cartas uns para os outros, até que ela se sentiu confiante para começar a ler e escrever sozinha. Foi muito legal! A escrita ainda está se desenvolvendo, claro, mas ela consegue se expressar. Mistura C com S e usa QU no lugar do C. Ainda assim consegue escrever cartões para a família toda. 

- com essa nova habilidade, passa bastante tempo lendo gibis da Turma da Mônica no sofá ou na cama, com uma girafa debaixo do braço e uma cobertinha. Apesar de já conseguir ler e se divertir sozinha, nos pede TODO DIA para fazermos uma 'leiturinha' de um gibi para ela. 

- aprendeu a andar de bicicleta sem rodinhas, como eu também já havia contado em outro post. Foi bem rápido, precisou de poucos dias para se sentir segura e ir. Agora corre pra caramba e não tem medo de nada. E caiu pouquíssimas vezes.

- gosta de jogar Beyblade com o Pedro e ganhou uma de presente no Dia das Crianças.

- faz quase tudo sozinha: vai ao banheiro, escova os dentes, toma banho, se veste, penteia o cabelo, corta banana de rodinhas no lanche da tarde, arruma a própria cama, guardar brinquedos, etc etc.

- foi super bem no período de aulas online. Quis fazer todas as atividades e se adaptou bem aos encontros com os professores e os (poucos) amigos que entravam no horário. Não se intimidou com a câmera e nem teve preguiça de assistir todos os vídeos. Dentro do possível, conseguiu aproveitar bem o que foi oferecido. E sempre muito animada e feliz.

- tem uma energia surreal. Está sempre animada, cantando, pulando, chamando a gente pra jogar um futebolzinho no corredor. Aliás, tem jogado futebol super bem!

- está em dúvida se quer mesmo ser presidente do Brasil quando crescer. Considera também ser varredora de rua, dirigidora de retroescavadeira, surfista e jornalista.

- perdeu muita roupa e sapato no último ano. Quando vimos, tudo estava curto e justo. 

- gosta de jogos de tabuleiro (Lince, Tapa Certo, Kariba, Dominó), mas ainda não assimila bem a derrota. Chora, joga tudo pra cima e diz que não quer mais brincar.

- fica chateadíssima se leva alguma bronca. Mas muito. Chora quietinha, sentida, até a gente ir e pegar no colo. Mas tem aprendido a reconhecer quando erra e pedir desculpas. No geral, ela e o Pedro são muito tranquilos e gente boa, não temos trabalho com eles. 

- tem ideias muito criativas e sempre está bolando planos para os ataques de ninja que ela e o Pedro executam em casa. Geralmente eles planejam roubar tomatinhos da mesa antes do almoço ou então ficar passando perto da gente sem que sejam notados. cof cof

- deu uma cansada de Patrulha Canina e está envolvida em uns desenhos de crianças maiores, tipo Jovens Titãs. Ela e o Pedro têm gostado de assistir as mesmas coisas, o que facilita a hora da TV aqui em casa: Mr. Magoo, Art Atak, Irmãos Kratts.

- fica super de boa sem televisão por dias. Ela e o Pedro criaram, no início da pandemia, uma brincadeira chamada Caçadores, em que todos os brinquedos desempenham um papel numa missão e sei lá mais do que (já falei sobre isso em outro post). Agora enjoaram um pouco, mas ficaram entretidos por meses com isso. 

- não faz drama para dormir. Se está com sono, põe pijama e se enfia debaixo das cobertas. Bem resolvida.

- está sempre atenta ao que acontece ao redor, tem uma desenvoltura muito grande e é muito carismática. É esperta e se vira bem sem precisar pedir muita ajuda.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Autoestima elevada? Temos!

Maria Luísa escreveu um livro essa semana. Não é o primeiro, mas um dos mais elaborados. Se chama "O Indiana Jones aventureiro" e tem vários desenhos dele em situações perigosas, de muita aventura. A obra tem capa e várias páginas, coladas delicadamente com fita crepe. Edição limitada.

Eu me encantei com a fofura da grafia dele, "O INDIANA DIONES AVENTUREIRO", e postei no stories do Instagram. Foi uma chuva de likes, como diz o Juliano. Várias pessoas interagiram e tentaram adivinhar o que estava escrito. 

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No jantar, comentei com todo mundo aqui em casa que havia postado e que o livro tinha ficado bem legal. A autora, na mesma hora, levantou da cadeira, deu um sorrisinho e disse: "Tem páginas de ponta cabeça? Sim. Mas ficou bom mesmo assim? Sim também!". 

Já pensou se todas as mulheres do mundo tivessem essa autoestima, gente? Não ia sobrar patriarcado pra contar história. Nem a do Indiana Jones!


Sobre apego e aprendizados

Quando o Pedro era pequeno, comprei um estojo vermelho grande com duas divisórias para guardarmos lápis de cor e giz de cera. Acabou sendo uma excelente compra, porque ele ama desenhar desde sempre. Na quarentena então, é rotina: ele e a Maria Luísa passam o dia inteiro pegando sulfite no escritório para as novas produções artísticas deles.

Daí que na semana passada precisamos nos despedir do tal do estojo vermelho, que estava bem velhinho e rasgado, derrubando giz pela casa inteira. Peguei um estojo do mesmo tamanho que seria usado pelo Pedro na escola, esse ano, e transferi os lápis para lá. Simples e fácil, não? Não, claro, porque Pedro viu o estojo vermelho no lixo e desandou a chorar.

Eu procuro entender esses momentos deles, por mais que eu discorde e ache um absurdo. Num primeiro momento disse que o estojo estava velho e que não estava mais desempenhando a sua principal função, por isso trocamos. Ele continuou a chorar, por dias. Sim, DIAS! Pedro passou uns três dias lembrando do estojo e chorando.

Pedro sofre pelas coisas. Ele odeia doar roupas que não servem mais (doa, mas chora antes e se despede de cada peça) ou jogar fora desenhos antigos. Se apega a tudo que já foi importante para ele e, se pudesse, guardaria tudo para sempre. Mas a vida não é assim, né. A gente mora em um apartamento e ninguém precisa manter roupa apertada na gaveta. As coisas têm que circular e sempre tem gente precisando do que a gente não usa mais.

Em um determinado momento, já no terceiro dia, eu disse a ele que entendia a tristeza dele, que sabia como ele adorava aquele estojo, que foi seu companheiro de desenhos por alguns anos. Mas que aquilo era um objeto, uma coisa. Não poderíamos sofrer como se estivéssemos falando de uma pessoa. É mais legal guardar (ou expressar) nosso amor por pessoas, não por coisas.

"Você pensa isso, mas eu não! Nós somos diferentes! É crime agora ser diferente?", ele gritou meio choroso, sentado na cadeira da sala de jantar. Não, não é. Me agachei ao lado dele e me dei uns minutos para refletir. "Eu deveria ter dito isso para minha mãe quando tinha a idade dele", pensei. Até esqueci do estojo. "Não é, filho, você tem razão. É maravilhoso sermos diferentes, e eu preciso entender isso o quanto antes", disse.

Não tenho apego nenhum a estojo ou calça jeans de dez anos atrás. Não uso mais? Vai para a doação, junto com brinquedos, utensílios domésticos e sapatos. Mas o Pedro não é a Juliana, o Pedro é a minha mãe o Pedro, e ele realmente sente essa ligação pelas coisas dele e se aflige quando temos que nos desfazer de algo. Talvez porque aquilo signifique mudar de fase. Aquele ato de abrir mão de alguma coisa querida quer dizer que ele cresceu, que não cabe mais ali, que não é mais um bebê ou uma criança pequena. E crescer dói mesmo, assusta. 

Não tem um dia que eu não aprenda algo com as crianças, por bem ou por mal. Mesmo nos dias calmos, quase tediosos. A visão de mundo deles, tão fresca e limpa de normas sociais, me abre a cabeça para um enxergar a ingenuidade e a simplicidade que a gente vai perdendo com a vida adulta. Não me irritei de ter que acalmar um menino que chorava pelo estojo rasgado, pelo contrário, achei que eu tinha um papel ali de ensinar. Mas, como quase sempre acontece, acabei aprendendo. E que lindo ver meu filho se posicionando!